sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

DESCASAMENTO

  marcelino tostes padilha neto

Desta casa
Saio de leve
De uma passagem breve
De um sentimento febre.
Levo no peito
A mancha escarlate
Do coração que sangra.
Levo no rosto
O arranhão profundo
Da lágrima que corre.
Levo nas costas
A vida cansada
Das viagens vãs
Levo nos poros
O suor das lutas,
A seiva da derrota.
Levo na mão
A chave da porta
Prá entregar ao João.


Nesta casa
Não deixo rastros,
Bandeiras em mastros,
Comidas nos pratos.
Levo as crianças
Que brincam ou que choram
Por não ter opção.
Levo os tesões, os tesouros,
As tensões da guerra dos sexos.
Levo umas fotos
De rostos marotos
Que já não são tão meus
Levo uma mala
Com um pouco de roupa
Com um muito de dor.
Levo a cabeça
Com dor de cabeça
Com o quebra-cabeça
Levo a dor, a alegria, o amor.


                                                  Desta casa
                                                  Levo no peito,
                                                                       no rosto,
                                                                                   nos poros,
                                                                                                  nas costas,
                                                                                                                  nas mãos,
 
As crianças,
Os tesões,
Umas fotos,
Uma mala,
Muita dor.

                                                               (setembro de 1984)

3 comentários:

Fátima Cerqueira disse...

Que coisa!É a segunda vez que tento enviar meu comentário e o sistema empaca.Do descasamento saímos com nosso pote cheio de dor. Bom é que se pode colocar isso em versos. Versos como os seus. Bonito! Por causa do maldito sistema mudei o comentário. SRSRRS. Agora saiu esste bobinho e pequeno.

Fátima Cerqueira disse...

Quero algo novo!!! Abro seu blog e lá está o "descasamento" abrindo cicatrizes em quem já viveu,passou e saiu em frangalhos. Quero um texto novo!!! De vida, reconstrução, cheio de tesão. Vá Marcelino!!! Escrava urgentimente!!!!!!!

Sheila Annibal disse...

Curioso, né!?
E quando o sangrar do coração e o arranhão profundo fica no peito apertado pela impotência..e quando nos poros transpira a derrota por nao ter tido escolha...ou opção?!Seja por que for DÓI!!!
Háaa dói quando temos que colocar não só numa mala mas em muitas, nossa vida,nossos planos e até os tesões.rsrss..Pois não ficará rastros,nem rostos..ficará só a dor de cabeça,para montar um quebra cabeça de uma vida nova!...

Bjks