sábado, 18 de dezembro de 2010

                                               O meu buquê




                                 Passeei perplexo meu olhar sobre aquela parte do Jardim, a Praça Dona Ermelinda - perplexo por ter descoberto aquele praticamente buquê de Acácias Amarelas: quatro ou cinco árvores repletas daqueles cachos de delicadas flores tão amarelas que disputavam a luz com o sol daquele entardecer de um já quase Natal. Eu que por tantas vezes já subira aquela escada que liga as duas praças me encantei com aquele cenário tão singelo que talvez mesmo por sua simplicidade e encantamento me tenha já passado despertebido por tantas outras ocasiões assim também floridas, também amareladas e quentes destes fins de Primavera, desses primeiros tórridos dias de um Verão tão próximo.
                                 Eu que tenho aguardado ansioso a decoração da Praça, vejo-a por um momento assim tão despojada e tão lindamente decorada que já nem sei mais se me encanto com as luzes pisca-pisca miúdas e coloridinhas ou as outras tantas que pontilham as alegorias da noite como guirlandas arrematando presépio, Papai Noel, renas e outros enfeites e agora, o descoberto encanto das luzes diurnas destas pencas e pencas de flores, Acácias que também enfeitam num tapete tênue as alamedas daquela parte da Praça e de meus desejos.  Poeta de araque e distraído este que não observara ainda estas árvores! Talvez as frondosas Palmeiras enfileiradas no passeio principal, ou os jambeiros e as jaqueiras, ou ainda o jovem Ipê Amarelo que se posta firme ladeando o Parque de gangorras e "cavalinhos" de minha infância, tenham me roubado a cena pelas tantas vezes que por ali passei... mas hoje brindei meus olhos com a sensibilidade na observação e encantamento pelo prazer desta descoberta de Fim de Ano. Faço destas flores então confetes para brindar e comemorar as tantas coisas boas que me aconteceram neste ano e também aquelas outras mais que espero para o futuro próximo; e se farão guirlandas para enfeitar meus sonhos ou talvez aquele pequeno adorno que ainda colocarei no cabelo de uma paixão num passeio destes por essa Praça. E se as coisas não ocorreram ou não ocorrerão assim tão boas como imaginávamos ou como nos permitimos sonhar, já fica a imagem linda daquele tapete que nos indica que sempre se renova como também se renova a esperança de que as coisas aconteçam.
                                Então só posso mesmo desejar Feliz Natal e Feliz Ano Novo, dessa vez repletos delas, as Acácias Amarelas que enfeitam aquele lindo canto do Jardim, da Praça Dona Ermelinda!

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Poema:      

                                                                   JOÃO  DA  SILVA
                                                                           marcelino tostes padilha neto - 1986

I

 João da Silva
Sozinho da Silva
Pobre da Silva
Humilde da Silva;
No sol quente da Silva
Doente da Silva
Esfomeado da Silva
 Trabalhador da Silva. 

 João da Silva
Caído no chão
De enxada na mão
Morreu feito um cão;
Não deixou criação
Não teve sermão
 Nem flor no caixão
 Foi só mais um João.

 II

João da Silva
 Caído no chão
Sozinho da Silva
De enxada na mão; 
Pobre da Silva
 Morreu feito um cão
 Humilde da Silva
 Não deixou criação.

 João da Silva
 No solquente da Silva 
Não teve sermão 
Doente da Silva;
Nem flor no caixão
Esfomeado da Silva
Foi só mais um João
Trabalhador da Silva.

III


João da Silva
Sozinho da Silva 
Foi só mais um João
Pobre da Silva;
Nem flor no caixão 
Humilde da Silva
Não teve sermão 
No sol quente da Silva.

João da Silva
Não deixou criação
Doente da Silva
Morreu feito um cão;
Esfomeado da Silva
De enxada na mão
Trabalhador da Silva
Caído no chão.

IV

João da Silva
Foi só mais um João.