sexta-feira, 29 de janeiro de 2010


 


AVE ORIGAMI
           (marcelino tostes padilha neto)


Arrastam-se pela casa
Os dias sem fazer nada;
A santa barroca abençoa
(com o filho no colo) meus dissabores.
Cadeiras vazias postas à mesa
Pra ceia que eu nem vou provar;
Janelas descortinadas
Que deixam o vento entrar.
Um cheiro de doce de figo
Me lembra que minha avó se foi;
E a colcha que está na cama
Foi posta pra te esperar.
Seguro na mão as tiras
Que te amarrariam as tranças;
Recito palavra a palavra
Os versos que te escrevi.
Embrulho a foto jogada
No canto das minhas tardes;
Faço uma ave origami
Com as folhas do teu diário.
Abraço saudades loucas
Que teimam me acompanhar;
Assim arrastam-se dias
De dias sem fazer nada! 


 

3 comentários:

Ayres disse...

Gosto muito daquilo que você escreve em prosa. Suas crônicas são muito boas. Aquilo que escreveu sobre seu pai me deixou pensativo... É dessa maneira que morrem os santos.
Ayres Koerig

Clarice Fernandes disse...

Não conhecia sua veia lírica... Gostei do que li. Bem que você pode nos premiar com versos mais vezes.

Fátima Cerqueira disse...

O doce de figo
avó que se foi
dias do nada
uma palavra
uma foto
e saudades
tudo embalado
nas sombras dos origamis.