AVE ORIGAMI
(marcelino tostes padilha neto)
Arrastam-se pela casa
Os dias sem fazer nada;
A santa barroca abençoa
(com o filho no colo) meus dissabores.
Cadeiras vazias postas à mesa
Pra ceia que eu nem vou provar;
Janelas descortinadas
Que deixam o vento entrar.
Um cheiro de doce de figo
Me lembra que minha avó se foi;
E a colcha que está na cama
Foi posta pra te esperar.
Seguro na mão as tiras
Que te amarrariam as tranças;
Recito palavra a palavra
Os versos que te escrevi.
Embrulho a foto jogada
No canto das minhas tardes;
Faço uma ave origami
Com as folhas do teu diário.
Abraço saudades loucas
Que teimam me acompanhar;
Assim arrastam-se dias
De dias sem fazer nada!
3 comentários:
Gosto muito daquilo que você escreve em prosa. Suas crônicas são muito boas. Aquilo que escreveu sobre seu pai me deixou pensativo... É dessa maneira que morrem os santos.
Ayres Koerig
Não conhecia sua veia lírica... Gostei do que li. Bem que você pode nos premiar com versos mais vezes.
O doce de figo
avó que se foi
dias do nada
uma palavra
uma foto
e saudades
tudo embalado
nas sombras dos origamis.
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