Ao abri-lo, já vejo estampado sua apresentação: é um autêntico Ritter halle, da Grossh.Sachs - Pianoforte - Fabrik - German, representado no Brasil pela "A Campos", Casa Standart - Ouvidor, 72 - Rio de Janeiro.
Fiz essa firula toda para, na verdade, falar do velho piano alemão que tenho na sala de minha casa: e mostrar a importância do instrumento que já trazia gravado sua origem e seu importador. Comprei-o no Antiquário de minha amiga Conceição por um preço até simbólico (claro que não vou revelar aqui! rsrs) e, sem dúvida, foi uma das grandes aquisições que fiz na minha vida.
Fui criado numa casa que sempre teve piano e acabei aprendendo alguma coisa "de ouvido", de tanto ouvir minha irmã Leyse tocar - aliás, uma das maiores pianistas que já ouvi, ao contrário da Denyse que só aprendeu mesmo o "Noite Feliz" (ela vai me matar se ler isso aqui, mas corro o risco porque isso sempre me vem à memória). Ficava eu então ouvindo os clássicos e os populares, até que um dia minha curiosidade levou-me a arriscar alguma coisa também - e até que saiu, dá para o gasto!
Mas voltando ao meu piano, logo depois da compra, fiquei curioso imaginando as mãos que passaram por suas teclas de marfim (hoje muitas já substituidas pelas sintéticas, de plástico mesmo) em suaves canções ou apoteóticas sinfonias, talvez algumas valsinhas ou até mesmo chorinhos ou marchinhas. Quem sabe até tenha sido motivo de começos de namoros ou saco de pancadas em desilusões amorosas; talvez já tenha participado de saraus ou de audições de Chopin , Bach ou Bethoven. Sei que pertenceu durante anos à Dona Doninha, esposa do Sr Chico Alves, portanto com muitas histórias que me podem ser reveladas pelas filhas da Brasileira ou do Dr Miguel Ângelo de Martino. Acho legal ter em minha sala bons fluidos que se expandem em notas musicais e que só podem irradiar bons momentos.
Em algumas festinhas aqui de casa às vezes um pianista presente nos brinda com belas interpretações, mas na maioria das vezes sou eu mesmo que me esforço em acompanhar a Glória em suas interpretações das mais belas canções românticas de nosso cancioneiro (na verdade, ela que me acompanha, numa correria só atrás dos meus acordes! rsrsrs). E as faxineiras gastam praticamente meio vidro de óleo de peroba bezuntando-o da forma como eu imagino que sempre o tenha sido tratado.
É um grande parceiro este meu piano e praticamente todos os dias passo por ele no seu já desafinado som mas ainda demonstrando uma robustez que certamente se estenderá pelas próximas gerações. Lembro-me da emoção de minha avó interpretando uma ou duas músicas que ela se lembrava ainda nos seus 90 e tantos anos de idade e que a faziam tão feliz e a todos os seus filhos e netos que rodeavam-na nesses momentos.
É mágica essa relação que temos, como que conversando, mesmo sabendo eu que tirando dele as coisas que eu quero ouvir. Em minha sala, meu amigo piano me conta coisas de minha infância e canta momentos meus.
4 comentários:
Meu irmão,
Que bom, ver você falar do piano!!! Que bom que você conseguiu o seu piano,pois, tem um ouvido que muitas pessoas não tem!!! Que bom que você fala de mim, pois,me vejo desde criança, sentada naquele piano, muitas vezes mamãe do meu lado, me ensinando aquilo que ela não sabia, mas, ao mesmo tempo sabia que era o que eu ia saber. Que bom falar da Denyse, pois detestava o piano, mas ficava com os livros do seu lado o dia inteiro estudando, coisa que eu nunca fiz.Que bom falar de um piano que toquei muitas vezes na casa da Doninham, pois, era amiga da Vera sua neta, e quando colocava o pé na sala tinha que tocar naquele piano. Coisa boa, falar de coisas boas que aconteceram nas nossas vidas, e, que me traz muitas recordações. Ah... se meu piano falasse... com certeza, vocês iriam ver, o que se passa no coração de uma pessoa que ama a música, que ama a vida, que ama tudo aquilo de bom que se passa numa família, em que tenho tem um piano dentro de casa...
Meu irmão, um abraço...
Leyse
Meu caro tio, parabéns por tão brilhantes idéias e criatividades estampadas e transmitidas a este blog. Parabéns por ser um artista, vc consegue fazer de uma simples coisa uma admirável poesia.
Bem, Marcelino, não sou a pessoa mais indicada para narrar as histórias desse piano, porque das netas de "Mamãe Doninha", sou a mais nova, excetuando apenas o meu irmão mais novo que eu 7 anos.
Do que pude desfrutar, lembro-me que todos os que sabiam tocar piano não saíam da casa dela sem teclar alguma música nesse piano que ficava na sala de visitas.
Da família, o Sérgio Aversa talvez seja o único dedicado à música e tocou muito nesse piano, como a Tia Orlanda, a Denizi, até minha mãe, que não era nenhuma artistas, mas tocava uma "La Cumparsita"...rs
Ainda bem pequena, mamãe me convidou, como uma obrigação a estudar piano com Dona Maria do Carmo, daí primeiro íamos para a "Mamãe Doninha" aprender as primeiras notas, depois íamos p as aulas de Dona Maria.
As minhas primas contam que nossa avó também tocava violino, mas não a peguei nesse fase, só no piano mesmo, que ela tocava em todas as reuniões familiares.
Fico feliz de saber que esse piano que foi tão utilizado e proporcionou tantas alegrias e ainda foi onde o Sérgio estudou muito, até que ele tivesse o dele, esteja hoje em boas mãos, de quem adora música e vai cuidar dele com o mesmo carinho.
É isso! Minhas primas podem dizer mais.
Marcelino,
"Tumei" conhecimento por "mio padre" que o piano pertenceu primeiramente, à irmã mais velha de minha avó, Tudinha, q foi casado com o Chicrala Amim, mãe do Wallace.
Creio que seu piano seja uma relíquia, beirando o centenário, pois Tundinha faleceu em 1921, aproximadamente.
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