domingo, 25 de outubro de 2009

O Meu Abacateiro








                Plantei no meu quintal um abacateiro, muda que me foi dada por minha mãe! Há poucos dias fiz o plantio e já o vejo irreverente apontando para o céu na busca de uma luz que o faça crescer e atingir pontos altos para produzir seus frutos. Ficou assim meio imprensado entre um pé de acerola sempre viçoso e várias ramas de beijos em cores variadas que lhe enfeita a aguerrida busca. Avizinha-se ainda com um pequeno orquidário e uma ainda muda também rainha da noite que certamente lhe perfumará as noites dos dias que o aguardam. Um pouco mais abaixo, também coloridas hortênsias com seus lilases e rosas que lhe servirão de tapete e usufruirão de sua sombra.
                Rego a cada manhã esta singela planta, já sonhando com os frutos e os galhos e folhas que habitarão meu quintal! Engraçado que quando o plantei, imaginei o tempo que levaria para se tornar árvore e só hoje soube que dentro de uns dois anos possivelmete se tornará um jovem abacateiro que poderá inclusive já produzir seus primeiros abacates. Não me importo tanto com esse tempo, pois aos cinquenta anos de idade não se tem mais a ansiedade da juventude e nem a certeza da longevidade dos sonhos sonhados! Lá vai ele crescendo numa lentidão só percebida numa folhinha ou outra que surge em verdes de matizes que se alternam de acordo com a maturidade. Também eu me apodero de cores e maturidades para ir "tocando meu barco" na busca de um futuro digno e calmo, cercado dos frutos e sabores que acaso eu tenha plantado!
               Lembro-me de amigos que também são amigos de suas árvores, umas em seus quintais, outras num jardim da casa, outras até mesmo em paisagens que se tornaram públicas pela exuberância de seu porte que avançam para o céu em buquês de confetes em suas floradas. São saudosos manacás ou ipês, pés de figos ou de  sapotis, caramboleiras ou amoreiras! Partes da infância e da juventude de poetas e românticos  que lhes abraçaram troncos ou lhes fizeram poemas em noites de luas cheias ou tardes de chuvinha fina com gosto de biscoitinhos também de chuva! Agora já não os invejo e cuido da minha futura árvore na busca desse prazer permanente de lidar com a vida que surge.
                Quero muito que uma cigarra cante em seu caule e rolinhas e beija-flores façam seus ninhos em seus galhos... tomara que eu saboreie seus frutos com meus filhos ou netos (que porventura venha a ter)  falando para eles das histórias da árvore e das minhas também! E que possamos dar boas risadas com a boca lambuzada pela gordura dos abacates em nossas tardes de descanso pelo quintal aqui de casa!

2 comentários:

Fátima Cerqueira disse...

Marcelino,

Depois que nossos filhos crescem, plantamos árvores, uma forma poética de perpetuarmos. Um dia alguém dirá com saudades: este abacateiro foi ( é) Marcelino quem plantou. Plante outras árvores e será sempre lembrado com diversos sabores.

Denyse disse...

Sinto orgulho de cada palavra que você escreve,da sua sensibilidade e se ser sua irmã. Te amo muito!!Bjs