terça-feira, 30 de março de 2010

  Marinho
                         Da janela também observo  o que acontece naquela cobertura de forma repetitiva e curiosa, domingo após domingo, fazendo de mim expectador de  cada movimento.
                         A porta dimensiona o gigante que entra e sai no seu dia solitário e rico na constução vigiada e vigilante do seu "redor" ; cato as migalhas do pão que me sobram e que alimentam o meu anseio e a minha busca por algo que está ali mas que ainda tenho travado dentro de mim. O vaso de flores e o tapete que me traz o frescor da grama de um piquenique qualquer saem da cartola do mágico personagem que não se cansa em nos revelar segredos... infindáveis possibilidades na convivência com a solidão!
                         O chapéu feito do jornal da minha infância também é barco e avião atacando a ciranda que minha mãe tantas vezes construiu para mim. Estou na beira do abismo que me limita e que me dá asas no voo em câmera lenta do astronauta e na pipa que me faz sonhar. Dos livros caixinhas de música recolho as mais lindas canções de minhas recordações. O manequin é a companhia fragilizada pela caixa que fica no canto de nossos cantos e que carregamos debaixo do braço de nossas esperanças.
                         E o tempo passa... e o tempo passa... e o tempo passa... E perplexo diante do ator que se entrega diante da platéia cabra-cega e emocionada, sou aprendiz de tudo e precursor dos sonhos que busco e que, gota a gota, se materializam para mim, na tempestade provocada pelo "Monstro Marinho", poeta e guerreiro da noite que me fez tanto bem! 

                                               

3 comentários:

marinho disse...

MARCELINO,
Li, emocionado, este seu texto lindo e sua forma tão poética de descrever minha peça. Isso me ajuda a confirmar que estou no caminho certo: querer emocionar e fazer pensar com o meu Teatro.
Agradecidíssimo. abração.
Marcos Marinho
http://teatromeudiaperfeito.blogspot.com

Fátima Cerqueira disse...
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Fátima Cerqueira disse...

Ato(r)

Em cena sou ato
Transmuto-me ator
Deságuo minhas anáguas
Nas bordas do palco
Exercito sua imaginação
Sou ilusão retirada
De uma folha de papel
Entre gestos, palavras e silêncios
Choro o amor perdido
Solto o grito pelo oprimido
Arranco a ríspida palavra dorida

Trago o riso frouxo
Sou tolo
Avarento
solidão
Safada meretriz
Se me pedem bis
Carrego entidades
E muitas identidades

Quem me conhece
Sabe que debaixo
Da base
Blush
Batom
E sombras
Aturdido
Há um ator
Um caboclo de cem faces

Represento políticos
Clérigos
Ateus
Judeus
Gordos
Magros
Feios
Demônios
Anjos
Gentes do povo
E gente que nunca foi gente
Mas tem história pra contar
E o que quero de você, plateia?
Aplausos
Urras
E um altar