Meu Estilo: Estilo? kkkkkkkkkkk
Tem dias que fico de bobeira aqui na net vendo umas coisas assim sem pé nem cabeça e me pego rindo, às vezes de mim mesmo, com as coisas que a gente nem acredita que respondeu ou nem mesmo pensou para responder. Lendo meu perfil no orkut, me deparei com o item "Estilo" e fiquei pensando no que imaginariam as pessoas que não me conhecem sobre isso a meu respeito. Até que fui esperto colocando "casual" para não dar margem a muita imaginação: entendi como um estilo bem simples, sem preocupação com o que "está na moda", sem grandes variações de cores ou modelos no que visto. E então (acho que já perceberam que tenho mania de preparar minha velhice mesmo sem saber se vou ficar velho!rsrsrs) comecei a viajar no meu estilo desde muito tempo atrás.
Lembrei-me então como primeira imagem do meu vestuário, eu de conguinha azul daqueles de biquinho branco do mesmo material da sola, meinhas brancas e short azul desbotado expondo minhas perninhas finas do magricela que fui e a camisa branca engomada com o bordado azul com o nome do Grupo Escolar Dr Ferreira da Luz: na verdade me lembrei muito mais dos colegas de classe, alguns meus amigos até hoje, saudosas professoras como a Ruth Passos (que na época eu odiava), D.Orlanda de Martino e até mesmo minha mãe que lecionou para nossa classe por um curto período, substituindo uma outra professora. No pátio do colégio, onde cantávamos o Hino Nacional e recitávamos várias rezas que nem me lembro quais, sempre repreendidos pela Dona Regina com sua régua caminhando entre as filas na ameaça de sua régua esperta a qualquer movimento estranho que por ventura tentássemos. E meu uniforme combinava sim com meu estilo de menino recém-chegado da roça, tímido e assustado com aquele mundo novo que me apresentava as letras e promeiras palavras que comporiam um dia meu mundo de leitura e de escrita como essa que agora pratico aqui.
Lembro ainda das missas de domingo em que colocávamos uma roupa melhor, tipo calça de Nycron com vinco e camisa "Volta ao mundo" e não era como nos dias atuais onde vemos as crianças e (principalmente) os adolescentes na cruel dúvida do que vestir para sair de tantas opções que na verdade os deixam tão iguais que tanto faz essa ou aquela. Nossas opções eram reduzidas a uma ou duas calças e também umas poucas camisas. Engraxávamos nós mesmos os nossos sapatos nas tardes de sábado, quando às vezes aproveitávamos para engraxar também as botas do papai ir à roça (botas cheias de bosta que tinham que ser praticamente lavadas antes de serem engraxadas), e ficávamos lustrando a cera amolecida pelo sol e íamos arrumando os pares emparelhados no canto do muro do quintal como se fossem parte do mostruário de uma sapataria. E esse estilo de vestir muitas vezes nem era exibido para o público presente à missa uma vez que eu, Coroinha que era, usava mesmo era uma vestimenta vermelha, estilo batina de padre mesmo, com uma outra vestimenta branca trabalhada em renda por cima que não me deixavam nem um palmo à mostra da roupa que eu reservava para os meus domingos. Depois houve o tempo de Cruzada, uma Associação Religiosa onde participavam crianças e adolescentes com um uniforme impecavelmente branco e com uma fita amarela atravessada no peito, bordada com uma cruz azul: todo terceiro domingo do mês era dia de missa da Cruzada e tínhamos que estar lá, preenchendo os bancos da frente da igreja com nossos cabelos com brilhantina impecavelmente penteados combinando com nossa roupa e nosso estilo santificado na busca do Paraiso prometido; lembro-me até que me ajoelhava logo após a comunhão diante da imagem de São Tarcísio, um santo martirizado ainda jovem e que expunha suas dores de forma tão dramaticamente diante de nós meninos que nos davam a sensação de uma felicidade tão dolorida e custosa que nos remetia ao medo da perda da salvação.
Depois veio a fase das blusas cacharrel , os sapatos cavalo de aço, os quichutes ou o Vulcabras para ir ao Ginásio (já estudava no Colégio Nossa Senhora das Graças ou no Deodato Linhares), a primeira calça Lee, o jeans depois popularizado, as camisas de algodão, as calças boca sino com cós com tantos botões fossem possíveis colocar, as primeiras Herings... era um estilo já influenciado totalmente pelas novelas e pela turma da Jovem Guarda e os primeiros cantores de Rock e que imitávamos influenciados pela mídia.
Já no Segundo Grau, estudando em Juiz de Fora, no Colégio Magister, uma Escola de vanguarda onde não se exigia uniforme e, como os alunos eram de classe média ou alta (lógico que com exceções como eu) percebi então que havia esse estilo imposto pelas grifes badaladas que uniformizavam a geração dos meados dos anos 70, num processo americanizado e alienado. Mas como o Colégio era contestador e formador de opinião contra a ditadura reinante, víamos também os primeiros porra loucas com camisas com frases de protesto e jargões escritos em inglês que eu nem imaginava o que era: eu, vindo do interior, de uma cidade e uma Escola na época bastante influenciada por um catolicismo tradicionalista, me sentia um peixe fora d´água mas procurando me adaptar ao meu estilo próprio da descoberta, da abertura para o mundo, com minhas camisas discretas da Master ou da Malharia Santa Bárbara que eram de tão boa qualidade que durante uns bons anos eu as usei como se na moda eu e elas estivéssemos.
Depois, na época da faculdade, era só mesmo roupa branca... uniforme exigido desde o primeiro ao último dia do curso tanto para as aulas práticas como as teóricas; dia desses estava até me lembrando que minha mãe providenciou meu uniforme com 3 calças (feitas pelo Chiquinho, claro) e 5 jalecos exatamente iguais, do mesmo pano, tamanho e feitio. Então fiquei os 4 anos da faculdade com minhas roupas exatamente as mesmas, só modificando um pouco o assentamento no corpo uma vez que eu já engordava uns quilos a cada ano e as calças no final estavam apertadíssimas na cintura e os jalecos morrendo de rir quanto eu me sentava e a barriga estufava até quase arrebentar os botões. Então meu "estilo faculdade" só se modificou mesmo das roupas larguinhas do primeiro ano às apertadíssimas já do final do curso.
Depois então veio a mistureba total: calças de panamá, tencel, linho e, claro os sempre jeans... camisas de manga comprida dobradas até quase o cotovelo, e camisas de linho, e camisas polo (já fui metido, usei Lacoste e tudo! rsrs), blusas de malha e de algodão, jaquetas de couro e jaquetas jeans, tecidos listrados e quadriculados, estampados ou aveludados, mauricinho ou largadão de marré... estilos conforme meu humor, meu bolso, minha vontade.
Volto ao orkut e vejo lá o meu Estilo: casual. E casual pode ser isso tudo mesmo e pode ser nada disso. Só usei terno e gravata em duas ocasiões de minha vida: fomatura e casamento, e é óbvio que foi o mesmo terno! Gosto mesmo é de uma calça jeans ou bege, das mais claras às mais escuras, já quase marrons, camisas polo ou Hering ainda, daquelas de gola V, um tênis All Star, cabelo curto e barba sempre por fazer. Esse é meu estilo cinquentão, de bem com a vida, entendendo-a bem simples e muito mais interiorizada do que fantasiada: podemos nos vestir de príncipes ou mendigos que sabenos na verdade o que somos, a que viemos e onde queremos e onde podemos ainda chegar: por cima dos meus óculos fico observando o mundo e curtindo meu estilo de vê-lo: e se estou de sunga numa praia ou trabalhando de jaleco ou andando pela rua ou de calça de pijama sem cueca nas folgas de minha casa, vejo que construi meu estilo, um estilo muito mais casual do que eu imaginei quando preenchi meu orkut! Essa net tem cada uma: por causa de uma resposta casual como meu estilo, veja como viajei no tempo, no tempo de todos nós!
4 comentários:
Viajei pelas suas roupas, ou melhor, nos seus “estilos”. Do uniforme de saia pregueada, presa a um corpete com o escudo do Grupo Escolar Lafayette Côrtes no peito aos pés com sapatos de “verlon”, odientos! A minha total independência veio com a calça Lee, acho mesmo que foi a parti dela que criei este tal estilo, alterando em cada fase de minha vida de acordo com as minhas idéias e corpo. Lendo seu texto, tive a sensação que nem percebemos o quanto cada vestimenta nos fez ou nos tornou o que hoje somos. A calça Lee o All Star ajudou-nos no momento que precisávamos “ser igual para sermos aceitos”. Dançamos o rock das nossas vidas, mas quem nos embalou foi João Gilberto, Tom e Chico. O tal estilo não está no jens velho e desbotado, está na cabeça que temos hoje, um pouco velha, mas em nada desbotada. Sabe de uma coisa? Sinto um orgulho danado de ser sua amiga, você é capaz de buscar o inusitado no orkut e fazer disso uma crônica deliciosa. Ah!!! Eu topo!
Como viajei no meu outro comentário, resolvi ser menos, bem menos efusiva. A roupa faz-nos personagens, representamos nossos papéis de acordo com o que podemos comprar e o que melhor se adapta a gente. Você fez uma lindíssima crônica memorialista, tenho certeza que muitos dos seus amigos e pessoas cinquentonas (rsrsrsr), encontrou no seu texto parte de suas histórias. Gosto de passar aqui no seu blog e, descobrir por onde anda seu olhar atento e cheio de “estilo”.Mesmo que eu pareça uma comadre, pronta para bajulações, estarei no seu blog sempre, pois muito me agrada o seu jeitão de escrever. Em tempo: os títulos são super convenientes!!!
Rsrsrrsrs Topo!
Meu Deus isso foi uma verdadeira viajem ao Túnel do Tempo."Casual",nada,nós tinhamos era "Estilo"!Essas fases,que voce tão bem relatou,me fez lembrar tanta coisa boa.Embora seu báu de memórias seja muito mais "sortido".Confesso já peguei mais a época da mistureba!Aff a famosa e tão cobiçada calça LEE,que juntei durante tantos meses minhas moedas para poder compra-la,e que vencida a compra travei outra batalha para que a mesma ficasse desbotada bem rápido,para poder colocar a chamada "nesga" e se tornar uma bela "Calça Boca de Sino" e desbotada como ditava a moda!(haha)...adoroooo!Viajei com minha cacharrel,que embora de gola alta, se tornava uma vestimenta sensual,por ser uma malha que se colava ao corpo, assentuando assim nossa silueta..uiiii,a esperar nossos paqueras que se apresentavam charmosos com suas blusas dobradas ate os cotovelos,dentro de suas calças também desbotadas,deixando-lhes com ar de playboy largadão...Embora o Menalca sempre fizesse o estilo "Mauricinho"(rsrsss).É meu Amigo, vc com essa sua viagem no tempo,no seu tempo,no tempo de todos nós,só nos trouxe boas recordações.O que esse mundo Virtual não faz hem!!!
12 de fevereiro de 2010 20:49
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