Fiapo de Lua
Aqui, deitado na área de minha varanda, no chão mesmo, para me refrescar desse intenso calorão, fico observando no céu escuro e de pouquíssimas estrelas, esse fiapo de Lua que se desenha como se fosse uma pincelada errada, uma mancha de tinta esquecida ou mesmo malfeita por um pintor qualquer. E sua transparência de luz e disformes sombras lhe dão um encantado mistério que, mesmo não sendo nem nova nem cheia, nos minguam os sonhos e ou tornam crescentes, de quarto em quarto, nossas inteiras perspectivas.
O som de um baile que se inicia logo ali, na rua que parte bem de frente da minha casa, trazem música e risadas de conversas animadas dos jovens que vão chegando aos poucos. E fico daqui, deitado e ouvindo, pensando em como estou velho para os bailes funks e como ainda novo para gostar de ver as pessoas se divertindo, paquerando, curtindo a noite de sábado na euforia que um dia foi minha... e não fica mágoa, saudade, coisa nenhuma que me deixe mais triste ou mais "sentindo-me velho e acabado" ... faço apenas da Lua, deste fiapo de Lua, a minha distração para esse cansaço que carrego de uma semana pesada; e fica assim, feito um distraído traço, descuido de um pintor que me distrai e vai ninando minha noite que se inicia sonolenta e traz consigo um sereninho para refrescar meus sonhos...
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