domingo, 17 de janeiro de 2010


                               O Terraço

                                Definitivamente não gosto de cortinas no meu quarto! Acordo sempre tão cedo que raramente perco a oportunidade de me encontrar com o amanhecer despontando, assim ainda meio preguiçoso e me mandando seus primeiros raios de sol. E já que moro numa cidade extremamente calorenta, gosto de ter as janelas e portas escancaradas durante a noite, principalmente por ter os quartos vizinhos a um terraço espaçoso e receptivo à mais tênue corrente de ar que passe aqui por perto de casa.
                                 E ainda de minha cama ouço o sabiá da Dona Áurea também acordado e talvez alvoroçado pela algazarra dos primeiros pardais e rolinhas que aguardam os miolos de pão que costumamos aqui em casa jogar no quintal para servir de alimento para as avezinhas. E fico entretido com as primeiras nuvens com suas formas disformes e com aquelas figuras que nossa imaginação criam e fantasiam de animais ou pessoas de nosso conhecimento. Se venta um pouco mais, é o sino que tenho na ponta do telhado que dá as boas vindas ao frescor das manhãs; se chove, observo as bicas nas suas cachoeiras que banham o terreiro da estradinha de terra batida que liga o lado de cá ao lado de lá do quarteirão onde moro.
                                 Pontualmente às 6 horas o relógio da matriz me convida para ir ao terraço. Se há cerração, as copas das árovres do Parque Ecológico trazem um clima de mistério para o dia que desponta, enquanto procuro o mirante invertendo as imagens de nossa vista preferida. Algumas vezes faço no terraço uma leitura qualquer até que o sol me incomode e me convide aos primeiros compromissos do dia. E o cheiro e o sabor do café com o pão quentinho derretendo a manteiga me lembra que o dia começa prazeroso.
                                À noite, sempre retorno ao terraço antes de me deitar e são as estrelas e a Lua os meus objetos de observação: e o São Jorge agora é o meu super-herói  guerreiro de mais um dia que se passou ou da nova noite que chega. E vejo ainda luzinhas pisca-piscas de aviõezinhos longínquos e com um ruído que me sussurra segredos de idas e vindas.
                              O sono me pega cedo: sou daqueles que acorda e dorme com as galinhas e que tenho como vizinho um galo maluco que canta a qualquer hora de uma madrugada qualquer. De meu terraço observo e vivo meus dias e noites  de minha vida simples e pacata, bucolicamente expostas ao sabor dos ventos. 

4 comentários:

Fátima Cerqueira disse...

Bendito seja seu terraço ! Tantos tem terraços iguais ao seu, no entanto, não possuem seu olhar.Acham perda de tempo ver imagens nas nuvens, ouvi um sabiá, jogar migalhas aos pássaros, encontrar São Jorge nas noites de lua cheia.Somente pessoas como você encontram e sabem que essas coisinhas da vida, são imprescindíveis.

Fátima Cerqueira disse...

Marcelino!
Cata umas nuvens em forma de ursos pra mim e peça a São Jorge que prenda o dragão num poço bem fundo. A gente anda sofrendo muito aqui na terra. Precisamos sonhar.

_ ahahhaha!!!1 vou parar de ser tão "cumadre".

Leyse disse...

Muito bom, li e parece que estou vendo, sentindo tudo o que está acontecendo.Você é demais... transmite com tanta facilidade que acabamos entrando nas situações apresentadas.Cilino, um beijo, Leyse.

Unknown disse...

Terraço familiar. Quem não tem um "terraço" em casa, mesmo que flutuante, após o pulo da janela que dá num vazio tão cheio de vento e cores de sol? Adorei a vida sem cortinas, mas ainda prefiro uma sem janelas, tudo ao ar livre, à chuva livre, ao sol ... bem, cabe aqui uma sombra de uma mangueira, de água, de rio, e rio sozinho, quando acabo de me lembrar que também amo muito tudo isso.