sexta-feira, 29 de janeiro de 2010


 


AVE ORIGAMI
           (marcelino tostes padilha neto)


Arrastam-se pela casa
Os dias sem fazer nada;
A santa barroca abençoa
(com o filho no colo) meus dissabores.
Cadeiras vazias postas à mesa
Pra ceia que eu nem vou provar;
Janelas descortinadas
Que deixam o vento entrar.
Um cheiro de doce de figo
Me lembra que minha avó se foi;
E a colcha que está na cama
Foi posta pra te esperar.
Seguro na mão as tiras
Que te amarrariam as tranças;
Recito palavra a palavra
Os versos que te escrevi.
Embrulho a foto jogada
No canto das minhas tardes;
Faço uma ave origami
Com as folhas do teu diário.
Abraço saudades loucas
Que teimam me acompanhar;
Assim arrastam-se dias
De dias sem fazer nada! 


 

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

                                 Dia Morno!        


                                          Tem dia que a gente acorda assim se sentindo até mais velho do que é: o corpo quer ficar mais um pouco na cama, tentando um ou outro alongamento, tipo mesmo cachorro ou gato quando desperta! Pensamos nas gárgulas que criamos em nossas catedrais e que ficam nos espiando para ver se nos metem medo ou se conseguimos enfrentar as batalhas do dia-a-dia. Pensamos nos filhos, amigos e familiares em geral e sentimos a culpa por não estarmos mesmo é preocupados com os órfãos pela catástrofe do Haiti. Ficamos assim assistindo as tragédias do mundo e as nossas pessoais e lamentamos muito o que não pudemos fazer; e uns rezam enquanto outros torcem para que as dores se minimizem.
                                            Acho que é assim mesmo com todo mundo. Tem dia que queremos mesmo é arrancar o dia da folhinha do Coração de Jesus (minha mãe é apostolada e sempre na minha casa houve o costume de se acompanhar o ano por esse sacro calendário) e como que engolir mosca pelo dia sem fazer nada. Conferimos a costura da pontinha do travesseiro para ver se ela nos distrai daquilo que nem sabemos; acompanhamos os primeiro barulhos do dia e os carros que começam a transitar pelos paralelepípedos desconexos que formam as ruas, fábricas de parfafusos soltos nos nossos carros. O cachorro tenta subir na cama para nos fazer uma graça mas nem damos bola para ele e até gritamos um "sai Ravi!" para espantar a lombeira! Mas mesmo assim levantamos e começamos esse dia já previsto morno.
                                          Passa rápido! Amanhã tudo se renova e talvez caminhemos e façamos dieta novamente, e talvez colhamos uma nova flor do nosso quintal, ou troquemos a água doce para que o beija-flor apareça, e talvez nem nada aconteça de especial mas já o será se acordarmos felizes: ao menos um pouco mais felizes que hoje! Tem dia que não se deve nem acordar: fingir que somos "café com leite" nessa brincadeira de vida! É, é bricadeira!       

sábado, 23 de janeiro de 2010

Li e recomendo: "Primavera num espelho partido" - Mario Benedetti

                                            Terminei a poucos dias a leitura do romance "Primavera num espelho partido", de Mario Benedetti, escritor uruguaio que nos remete ao tempo da ditadura militar naquele país e em muitos outros países latino-americanos. A dor do exílio e a relação com familiares presos políticos servem de pano de fundo para a envolvente história de Santiago e Graciela na difícil relação de saudade e distância, sonhos e verdades, amor e carência. Vale a pena dar um mergulho nesse momento da história, até mesmo para não nos esquecermos nunca daqueles episódios que marcaram tanto a minha geração: recomendo ainda para os jovens leitores que queiram saber mais, a partir da visão não oficial,  a partir dos torturados e sequestrados.
                                         Enquanto ainda lia este livro, passei por um site de autores uruguaios, já que minha amiga Lúcia estava em Montevideo  e qual não foi minha surpresa em descobrir o poeta Mário Benedetti, uma das maiores expressões da literatura daquele país. Seus poemas são verdadeiras obras de arte, bastante comparável ao nosso Drumond. Para quem gosta de poesia, imperdível dar uma pesquisada por lá também. Belíssimos poemas.




PS:  Acho que já disse aqui que não sou nenhum literato e desconheço os grandes autores da literatura universal e só li mesmo  muitos clássicos de nossa literatura por conta de livros adotados em épocas escolares ou recomendação de amigos. Mas adoro ler, e leio de tudo, acho que até classificados de jornais! rsrs... Gosto de história, filosofia, gibis, poesias, ficção, policial, teatro e até revista de sacanagem. Leio 2 ou 3 livros de cada vez e tenho mania de ir deixando os livros que estou já no final para ir postergando a hora de me separar dele. Gosto de livros de 500 ou 600 páginas para ficar mais tempo envolvido com aquela história e sempre é um dilema eu ler as últimas 20 ou 10 páginas, morro de pena mesmo de acabar o livro. Por isso muitas vezes comento que estou lendo este ou aquele livro e demoro a terminar enquanto vou lendo outros, intercalando com outros ainda. Sempre que estiver lendo algo que acho que posso recomendar, o farei por aqui.    

domingo, 17 de janeiro de 2010


                               O Terraço

                                Definitivamente não gosto de cortinas no meu quarto! Acordo sempre tão cedo que raramente perco a oportunidade de me encontrar com o amanhecer despontando, assim ainda meio preguiçoso e me mandando seus primeiros raios de sol. E já que moro numa cidade extremamente calorenta, gosto de ter as janelas e portas escancaradas durante a noite, principalmente por ter os quartos vizinhos a um terraço espaçoso e receptivo à mais tênue corrente de ar que passe aqui por perto de casa.
                                 E ainda de minha cama ouço o sabiá da Dona Áurea também acordado e talvez alvoroçado pela algazarra dos primeiros pardais e rolinhas que aguardam os miolos de pão que costumamos aqui em casa jogar no quintal para servir de alimento para as avezinhas. E fico entretido com as primeiras nuvens com suas formas disformes e com aquelas figuras que nossa imaginação criam e fantasiam de animais ou pessoas de nosso conhecimento. Se venta um pouco mais, é o sino que tenho na ponta do telhado que dá as boas vindas ao frescor das manhãs; se chove, observo as bicas nas suas cachoeiras que banham o terreiro da estradinha de terra batida que liga o lado de cá ao lado de lá do quarteirão onde moro.
                                 Pontualmente às 6 horas o relógio da matriz me convida para ir ao terraço. Se há cerração, as copas das árovres do Parque Ecológico trazem um clima de mistério para o dia que desponta, enquanto procuro o mirante invertendo as imagens de nossa vista preferida. Algumas vezes faço no terraço uma leitura qualquer até que o sol me incomode e me convide aos primeiros compromissos do dia. E o cheiro e o sabor do café com o pão quentinho derretendo a manteiga me lembra que o dia começa prazeroso.
                                À noite, sempre retorno ao terraço antes de me deitar e são as estrelas e a Lua os meus objetos de observação: e o São Jorge agora é o meu super-herói  guerreiro de mais um dia que se passou ou da nova noite que chega. E vejo ainda luzinhas pisca-piscas de aviõezinhos longínquos e com um ruído que me sussurra segredos de idas e vindas.
                              O sono me pega cedo: sou daqueles que acorda e dorme com as galinhas e que tenho como vizinho um galo maluco que canta a qualquer hora de uma madrugada qualquer. De meu terraço observo e vivo meus dias e noites  de minha vida simples e pacata, bucolicamente expostas ao sabor dos ventos. 

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

       E POR FALAR...             

                                      Escrevo pela necessidade de exercitar um texto ou simplesmente pela oportunidade de falar de coisas ou pessoas,  sentimentos ou acontecimentos de dias vividos, principalmente aqui em Miracema. E se engulo palavras ou tropeço em letras, mesmo assim acho interessante as teclas serpenteando frases diante dos meus olhos em mágicas filas milimetricamente dispostas que até mesmo antecipam palavras que quando vejo, já estão aqui expostas, concatenando ideias e me dando a oportunidade de dividir momentos com pessoas às vezes tão distantes de mim, ora tão próximas, que fico imaginando onde é que isso vai chegar!
                                       Sempre gostei de escrever coisas do cotidiano, do que acontece comigo e com a maioria das pessoas bem simples e comuns e acho um barato saber que os problemas e as alegrias do vizinho são exatamente os nossos; e essa maneira de colocar isto escrito nos dá oportunidade da não banalização de nossos pequenos gestos e emoções. Falo de livros que leio ou de minhas peças e suas encenações, de filhos ou coisas de casa, de amigos e festas, de um pé de fruta ou de uma flor nova lá do quintal, publico poemas novos e outros já velhos e esquecidos numa gaveta qualquer, falo de amores e desamores, de saudades de coisas que já fiz e de projetos que ainda tenho. Fico muito feliz quando encontro com alguém que comenta alguma coisa que tenha lido aqui e até mesmo quando diz que pensa exatamente igual ou totalmente o contrário do que eu disse; mas é um comentário sempre respeitoso, com carinho, incentivando nossa caminhada.

                                   Tento ser contemporâneo nas minhas postagens para que as pessoas entendam que é bom demais estarmos a par do que está acontecendo de novo e vivenciar na prática essas mudanças de atitudes. Não me preocupo em me colocar acima do bem e do mal, dono das verdades absolutas. Gosto de me expor como ser humano, não ditando regras ou receitas de bolo com fórmulas mágicas para se viver bem. Falo de meus bens e de meus males também para que sirva até de reflexão para mim mesmo, pois é gostoso demais esse exercício de lermos o que pensamos que fazemos com nossas vidas. E o grande barato é sabermos que um dia poderei ler muito das coisas  que coloquei aqui e até mesmo  não concordar mais com muitas delas: e só não me sentirei assim ridicularizado pela certeza de que falo de um momento sem passado e sem futuro, apenas fruto daquilo que estou pensando agora.
                               O leitor tem a prerrogativa de parar de ler o texto no meio, rir do que penso ou simplesmente me deletar de seu rol de visitas. Mas eu, quando começo um texto e vou me expondo e convidando vocês a curtirem alguma coisa daqui, sinto que as palavras são absolutamente portadoras na  fantasia da comunicação.  Me apoderando do título de um livro de minha conterrênea Maria Alice Barroso, "Um dia ainda vamos rir disso tudo". 


quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Poema:" Imagens"






IMAGENS
marcelino tostes padilha neto



Abrem-se em reflexos
Braços de espelho
No verde lenho
Ungido de nítidas imagens
Verso-transverso
Corpos nus, impunes
Coloridos semblantes,
Boca aberta, peito aberto,
Bandas de cá
Bundas de lado - traços, troços
Vasos e vozes
Na escada central
Vozes e vezes
Degustando corpos e - nada
Devoradas imagens
Que se devoram avidamente
Demorados momentos,
Parcos momentos nossos
Caras e cores,
Delícias, amores
Pêlos e poros
Suados, sugados
Feiticeiro espelho,
Refletidos sonhos.



segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Feliz Aniversário, minha filha!



                                                         Hoje é dia do aniversário da minha filha Fernanda, motivo da mais linda emoção que já senti em minha vida, ser pai pela primeira vez. Não quero dizer que a vinda dos outros dois também não me tenha trazido imensa emoção, mas a primeira é sempre indescritível. E a Nanda representou a alegria primeira de ter uma filha tão querida nos meus braços e enchendo minha cabeça de sonhos e projetos de vida.
                                                        Pouco depois veio o Saulo e logo adiante o fim do meu casamento. Ficou então uma relação partida, com altos e baixos, encontros e distâncias, alegria e saudade, muita saudade sempre. Deixei de compartilhar grandes momentos de sua vida e também não a fiz dona de meus ais, culpa de minhas angústias e tristeza em minha vida. Mastigo minhas culpas mas também sou muito, imensamente feliz todas as vezes que nos encontramos ou nos falamos por telefone ou e-mail. Ela sempre fala com carinho e me abraça e me beija de forma tão amorosa que nem me sinto pai ausente, mesmo sabendo que sou.
                                                       Com o Saulo falo muito mais por conta de Orkut, Msn, sua presença sempre nas apresentações de minhas peças, enfim, nem sei direito porque, nos procuramos mais, talvez. Mas a Nanda nem me deixa "dar conta" do quanto tempo não nos falamos, vindo logo com sua alegria e contagiando esse coração bobo de pai orgulhoso da filha que tem. Amo minha filha muito mais de longe que aos outros e sei que a amo mais pois  sou seu pai a mais tempo que dos outros! rsrs
                                                       Ela me provoca pensar se amamos mais a um filho que aos outros e a certeza de que, amamos sim, cada um de uma forma diferente: cada um nos cativa de uma forma, cada um precisa mais ou menos em momentos diferentes, cada um nos acolhe com um abraço apertado na hora de nossos apertos, de nossas angústias ou mesmo de nossas alegrias. Sinto orgulho de todos e os amo de uma forma tão diferente e igual que não os amo mais ou menos um ao outro, amo-os de formas diferentes e intensas. Engraçado que essa filha querida não deu problemas na Escola, sempre foi aplicadíssima e se destacando entre os melhores alunos e mesmo antes de se formar já estava empregada e estudando ainda mais e mais. Mesmo assim não perdeu seu sorriso gostoso, seu carinho comigo, sua meninice  quando nos encontramos. Acho que aprendeu e me ensina a valorizar os encontros, as palavras, os gestos. Não gosto e nem recomendo a nenhum pai o destino de ser " pai separado"; mas não seria o mesmo se em minha vida não tivesse o prazer de ser pai dessa delícia de filha que parece que agora não estar mais namorando "firme feito pé no lodo"!
                                                    Te adoro, minha filha, Feliz Aniversário e até qualquer dia desses.
                                                                                   Beijo de pai!